• 12/02/2019

    ai ai.
    nós nunca sabemos pelo que o coleguinha está passando. as vezes ele foi escroto com você porque está passando por um momento complicado. mas as vezes você estava passando por um momento complicado quando ele agiu de forma desagradável e você entrou num momento ainda mais pesado do que antes. é impossível medir o peso de todas as nossas ações.

    eu penso nisso o tempo todo. se todas as nossas ações recebem uma nota, será que deixo de ser uma boa pessoa se reclamo de uma coisa que me deixou triste? será que sou uma pessoa ruim porque ao reclamar de certa atitude que me incomodou estou, de certa forma, incomodando alguém ou deixando alguém triste? será que tem como o michael consertar esse negócio de pontuação para ir para o good place? afinal, se formos pesar exatamente cada consequência de nossos atos, ainda valerá a pena agir? atos positivos podem ter consequências tão negativas como nessa série? (não terminei essa temporada de the good place ok) (tudo bem que a série faz essa crítica à nossa mania atual de dizer que tudo é ruim e que se usarmos canudo de plástico estaremos matando todas as tartarugas. sendo que é bem mais complexo que isso, já que as coisas são complexas MAS AINDA ASSIM.)

    eu demais.

    uma vez eu li uma matéria assustadora sobre como a china é, basicamente, o episódio nosedive de black mirror. eu fiquei horrorizada, sim. contudo, ao mesmo tempo, eu fico querendo que a minha opinião virtual enquanto crítica de estabelecimentos e restaurantes seja ouvida e seja relevante. só que eu não quero que meus pais, donos de um comércio, tenham também que lidar com críticas virtuais. minha mãe fica triste. mas e se o local que eu critiquei (bife tão ruim quanto o atendimento) também tiver uma pessoa que vai se entristecer lendo esse comentário? e se a minha crítica for encarada só como uma maneira de diminuir a nota do restaurante e ajudar a levá-lo a falência? será que devo fazer apenas elogios? será que devo não dar notas a nada? será que devo jogar o celular no lixo e tentar viver como se não houvesse tudo isso de notas e informação e consequências para nossos atos?


    não consigo saber o que fazer. posso tentar sempre fazer o melhor que eu puder mas as vezes é simplesmente impossível, as vezes eu não percebo que estou tendo uma atitude desagradável. e mesmo assim, uma atitude agradável vai resultar em pessoas felizes? e se eu dou uma roupa de presente pro meu namorado e beleza, eu e ele estamos felizes mas e a pessoa que foi escravizada pra fazer a camisa? duvido que ela ficará feliz.


    eu penso também naquele filme, questão de tempo, em que o irmão do rony weasley vilão de star wars chega a uma conclusão muito bonita sobre viver a vida de forma relaxada e tranquila como se fosse a segunda vez que você está vivendo aquele dia. não era exatamente isso, beleza, mas eu lembro que era um final muito gostoso que dava vontade de viver e ser feliz e simpática o tempo todo. não sei fazer isso mas, bom, acho que temos que tentar. sem ficar se vilanizando por ter falhado algumas vezes. sei lá. é um assunto que me traz muito mais perguntas do que respostas, e me deixa com muitos sentimentos conflitantes.

  • 07/02/19

    escrever é difícil. não é novidade um texto sobre a complexidade da escrita. encontrar um tema sobre o qual escrever pode ser difícil também. não é a toa que existem tantos poemas metalinguísticos, tratando da escrita de poemas. acredito que todo mundo que já sentiu vontade de escrever mas não conseguiu pensar em alguma coisa para escrever já pensou em falar sobre escrever. a escrita é fascinante, de certa forma.
    nesse momento, não tenho a menor ideia de como continuar escrevendo. antes desse parágrafo, a última vez que escrevi prosa não científica foi há dois anos. mas posso estar exagerando. não entendo por que sinto vontade de escrever se não sei sobre o que quero falar.

    o que, afinal, eu quero falar?

    ~

    antes de entrar na faculdade escrevi sobre como gostaria de ser uma nova pessoas com menos preconceitos. eu acreditava que havia perdido oportunidades de ter um ensino médio divertido por considerar todos os meus colegas idiotas o tempo inteiro. achei que era possível ter um amigo com opiniões desagradáveis e por meio da amizade, conversas agradáveis e noites divertidas, transfigurar esse amigo em uma pessoa boa de verdade, de eleitor de aecio neves a uma pessoa que não odeia pobres, basicamente. mas então entrei na faculdade e não sei por que exatamente mas essa parte de mim não acredita mais que isso seja possível. talvez seja porque as pessoas que estão do outro lado me pareçam radicais demais e eu fico incrédula com a falta de humanidade e respeito ao próximo. fico incrédula com a enorme vontade de estar certo, com a crença de que o outro está totalmente errado e que somente ele sabe o que é bom. mas talvez eu seja assim também, afinal, não acho que o que eu penso está errado. e estou pouco disposta a mudar.
    é complicado. não consigo conceber um mundo nem mesmo levemente menos polarizado. é um pouco sufocante, até.

    ~

    tem mais de um ano que escrevi essa bagunça aí e a cada segundo tudo fica mais bagunçado. eu sigo não entendendo a mentalidade alheia. uma pessoa fala bem sobre meritocracia e eu fico tão embasbacada que não me sobram palavras para responder. sinto que não sou capaz de dialogar. e que as outras pessoas também não são. é como se o diálogo estivesse morrido e restasse a nós ficar presos nesse ambiente sem sentido algum em que todo mundo se odeia o tempo todo e em que o inimigo do meu inimigo não é meu amigo, porque somos todos inimigos.

    honestamente, há uma solução para esse sentimento? nos outros momentos ruins pelos quais a civilização ocidental (ou outra qualquer, não faço questão nenhuma de ser essa), as pessoas sentiam que havia perda total também e depois ficava tudo melhor, ou não? é só aqui?

    enfim, não sei lidar muito bem com esse feeling de que o mundo está acabando.