• 07/02/19

    escrever é difícil. não é novidade um texto sobre a complexidade da escrita. encontrar um tema sobre o qual escrever pode ser difícil também. não é a toa que existem tantos poemas metalinguísticos, tratando da escrita de poemas. acredito que todo mundo que já sentiu vontade de escrever mas não conseguiu pensar em alguma coisa para escrever já pensou em falar sobre escrever. a escrita é fascinante, de certa forma.
    nesse momento, não tenho a menor ideia de como continuar escrevendo. antes desse parágrafo, a última vez que escrevi prosa não científica foi há dois anos. mas posso estar exagerando. não entendo por que sinto vontade de escrever se não sei sobre o que quero falar.

    o que, afinal, eu quero falar?

    ~

    antes de entrar na faculdade escrevi sobre como gostaria de ser uma nova pessoas com menos preconceitos. eu acreditava que havia perdido oportunidades de ter um ensino médio divertido por considerar todos os meus colegas idiotas o tempo inteiro. achei que era possível ter um amigo com opiniões desagradáveis e por meio da amizade, conversas agradáveis e noites divertidas, transfigurar esse amigo em uma pessoa boa de verdade, de eleitor de aecio neves a uma pessoa que não odeia pobres, basicamente. mas então entrei na faculdade e não sei por que exatamente mas essa parte de mim não acredita mais que isso seja possível. talvez seja porque as pessoas que estão do outro lado me pareçam radicais demais e eu fico incrédula com a falta de humanidade e respeito ao próximo. fico incrédula com a enorme vontade de estar certo, com a crença de que o outro está totalmente errado e que somente ele sabe o que é bom. mas talvez eu seja assim também, afinal, não acho que o que eu penso está errado. e estou pouco disposta a mudar.
    é complicado. não consigo conceber um mundo nem mesmo levemente menos polarizado. é um pouco sufocante, até.

    ~

    tem mais de um ano que escrevi essa bagunça aí e a cada segundo tudo fica mais bagunçado. eu sigo não entendendo a mentalidade alheia. uma pessoa fala bem sobre meritocracia e eu fico tão embasbacada que não me sobram palavras para responder. sinto que não sou capaz de dialogar. e que as outras pessoas também não são. é como se o diálogo estivesse morrido e restasse a nós ficar presos nesse ambiente sem sentido algum em que todo mundo se odeia o tempo todo e em que o inimigo do meu inimigo não é meu amigo, porque somos todos inimigos.

    honestamente, há uma solução para esse sentimento? nos outros momentos ruins pelos quais a civilização ocidental (ou outra qualquer, não faço questão nenhuma de ser essa), as pessoas sentiam que havia perda total também e depois ficava tudo melhor, ou não? é só aqui?

    enfim, não sei lidar muito bem com esse feeling de que o mundo está acabando.