• deus está morto.

    antes do advento do smartphone, a gente criava expectativa sobre o momento de entrar na internet. aquele momento, de clicar no ícone e ver a página inicial carregando. quando a internet ainda era discada, era necessário esperar o final de semana pra finalmente ter a experiência de adentrar um mundo novo em que tudo era possível. os ares de novidade, a vontade de desbravar o desconhecido, eu ainda me lembro bem dessas sensações. a expectativa pelo final das aulas para poder finalmente entrar na internet e fazer eu nem sei o que.

    jogar jogos infantis e ler fanfics de naruto e alimentar neopets. baixar todos os mangás que existiam nos sites como o falecido http://mangadream-shoujo.blogspot.com/. quando eu era criança, a internet era a minha casa.

    e hoje em dia eu entro na internet e encaro a tela desatualizada do twitter a cada 5 segundos. não existe mais expectativa para entrar na rede, ela já faz parte de nós e o sentimento deixou de ser bom para ser uma angústia maior a cada momento separados. eu simplesmente não vejo nada de bom nesse lugar pra mim. não tenho vontade de abrir meu computador, não tenho vontade de jogar, de ler, de fazer nada. é como se eu tivesse virado um vegetal.

    talvez fosse alguma questão da infância, afinal, quando eu era nova, gostava mais de ler, e tudo que eu lia parecia novo e aventuroso.

    a internet simplesmente perdeu a graça e sinto que já conheço todos os seus cantos e espaços e pessoas e não tem nada de diferente ou interessante que faça com que eu tenha vontade de viver ou experimentar mais. é como se não tivesse um refúgio e tudo fosse desconfortável aqui.

    na música A World Alone, a Lorde fala “maybe the internet raised us… or maybe people are jerks”. deixando pra lá o fato de que essa é uma música sobre cyberbullying e guerrinhas de fandoms e pessoas que não podem ver as outras fazendo sucesso, lá pro tempo do ensino médio eu me identificava muito com essa frase. é verdade, lorde, maybe the internet raised us. pra mim, a existência está intimamente conectada com essa ferramenta que hoje em dia é tão vilanizada e que, por mais que também me encha o saco, eu tento defender e buscar formas de recuperar.

    mas a realidade é que eu não vejo como. não consigo ser otimista a ponto de imaginar alguma forma de recuperar a internet que era tanto nossa e agora pertence a grandes corporações. talvez exista alguma alternativa? não sei.

    bleh

    simplesmente não existe nada no mundo que eu queira fazer. estou tão profundamente entediada.

    sei lá. eu sinto que tem um pouquinho a ver com pirataria e espaços de fãs. óbvio que tem a ver com capitalismo. grandes corporações tomaram o lugar dos fãs nas redes. esse é um raciocínio que eu não sei concluir, não sei elaborar. mas pra mim, há uma clara relação entre a presença forte dos donos das mídias na rede e a diminuição da pirataria e o falecimento do tumblr e livejournal e comunidades de fã em geral com a Morte Da Internet. mas não sei explicar.

  • groundhog week e o loop semanal da minha vida

    as vezes reparo na repetição de padrões. os dias da semana são repetidos a cada sete dias. em todas as segundas eu trabalho, o que é horrível e me deprime, mas como a semana está em seu princípio, ainda acredito que tenho como consertar minha vida e faço planos e objetivos. a terça é horrenda: tudo de ruim, começo da semana. quarta eu penso que pelo menos estamos chegando no meio da semana e o meio é quase o fim. na sexta, a feira matinal (na qual eu quase nunca consigo ir) mostra o início de um final muito feliz: finalmente, finalmente é sexta. lá pras três horas, já estou me preparando pra ficar em paz por dois dias inteiros, a perna tremendo debaixo da mesa. para celebrar, uma ida ao mercado, na sexta mesmo, ou no sábado de manhã. no domingo, é claro que fico triste, afinal, logo chega a segunda. os outros dias nada mais são do que um amálgama de acontecimentos que nunca são bons ou ruins o suficiente para serem memoráveis.

    e é assim que me perco nas semanas que são todas iguais.

    evidentemente, quando idealizei esse texto pela primeira vez, ele era muito melhor do que está sendo. muito como a minha vida.

    hoje refleti e cheguei a conclusão de que tudo na minha vida piorou ou se manteve igual após eu encontrar um emprego, com a exceção da minha vida financeira. claro que isso em si muda tudo.

    enfim

    estava eu tomando banho e pensei em soluções para o meu problema de infelicidade cíclica. seguem:

    1. morrer.

    a morte é sempre a solução mais simples e fácil, e por isso mesmo, a pior de todas. pensando por uma perspectiva ficcional, a morte de um personagem é quase sempre a forma mais fácil de lidar com um problema. muitas fanfics sofrem desse mal, afinal, é difícil fazer arcos de redenção para os vilões e pensar em soluções complexas e interessantes. só que a morte é, tanto na vida real quanto fictícia, uma solução não só para todos os problemas, como também para as outras soluções. pensa só: matar o vilão no final da história para garantir um final feliz. matar os pais do protagonista no começo da história para garantir que o personagem não vai ter que prestar contas para ninguém. morrer e então nunca mais precisar trabalhar.

    inegavelmente é uma solução. mas é uma solução fraca, que não resolve a equação do jeito ideal.

    2. engravidar e entrar de licença maternidade e assim ficar vários meses sem ter que trabalhar lá no lugar que eu trabalho.

    é uma ideia horrível pois eu não quero ser mãe. e nem ficaria a toa, visto que teria que cuidar de um bebê. mas as vezes qualquer coisa parece melhor do que as cobranças e metas que me acometem diariamente.

    3. pedir demissão.

    mas de que forma isso seria bom, se eu tenho uma reserva financeira de centavos e estou viciada no meu vale alimentação de milhões?

    brincadeiras a parte, penso nisso com frequência. talvez eu fosse mais feliz sendo desempregada e estivesse então podendo buscar outras alternativas, já que, apesar de trabalhar apenas 30 horas semanais, meu psicológico sai tão drenado dessa experiência que eu não tenho forças pra fazer mais nada.

    mas pedir demissão me parece novamente uma solução muito simples. eu teria muita vergonha disso, no futuro, mesmo que eu esteja muito infeliz e insatisfeita. talvez seja uma questão de engolir esses sapos até me adaptar. aprender a lidar com essas tristezas. não sei.

    4. mudar de vida na marra.

    vejam só, essa é claramente a melhor opção. é a escolha certa. racionalmente eu sei que é isso.

    sabe no final da primeira temporada de fleabag, que é quando ela atinge o fundo do poço? a relação com a familia em frangalhos, o namorado com outra, o ficante apaixonado por outra, a irmã acreditando no marido escroto. o café endividado…

    já tem um tempinho desde a primeira vez que vi a série, que só fui rever nos últimos dias, e enquanto estava no começo da primeira temporada, eu observava tudo dar errado e pensava, cara, como ela chega bem no começo da segunda temp? o que ela faz pra virar essa chave? pois bem, agora que cheguei na temporada final novamente, vi a cena em que ela fala que fez de tudo… comeu certinho, se exercitou, parou de falar tudo que pensava e fazer tudo de tóxico que ela fazia, e então fez um certo sentido sim.

    ok, certamente a ideia da série não era mostrar que essas coisas aí resolvem todos os problemas do mundo. mas poxa, melhora, não melhora? até a vida da fleabag melhorou.

    é, certamente isso vai sim resolver meus problemas todos:

    a) identificar hábitos nocivos e parar com eles;
    b) comer bem: frutas, vegetais, fibras e muita natureza;
    c) me exercitar: uma mente sã habitando um corpo são.

    engraçado que esse é outro padrão: identificar problemas, desenhar formas de lidar com eles, fracassar, identificar problemas, desenhar formas……..

    haha!

    o real desafio é encontrar a forma de sair desse ciclo do jeito correto.

    enfim. por hoje é só. não sei mais o que dizer. acho que queria apenas deixar registrado em mais um local o quanto estou de saco cheio dessa repetição semanal inevitável.