• fake dating: um estudo de casos…

    Tudo começou semana passada (que hoje percebo que pode ser qualquer semana anterior ao dia de hoje já que não sei quando comecei a escrever isso), quando a Paola disse que estava lendo uma comédia romântica que, por acaso, antes de ser livro, havia sido uma fanfic ReyLo. Reylo, pra quem não sabe, é o casal formado pela Rey e pelo Kylo Ren da nova trilogia de Star Wars. Devido aos seus fãs meio… obcecados, grande parte da internet acabou pegando implicância do casal. Como essa minha amiga.

    Por outro lado, eu sou uma grande fã do amor. E nada é mais romântico do que um homem grande, forte (as vezes a beleza é opcional, não posso fazer fazer nada), com muitos daddy issues, filho de pais ricos, introvertido e usuário apenas de roupas pretas se apaixonando por uma moça menor que ele porém também forte, órfã, que sempre se virou sozinha e não quer depender de homem. Não sei. Tem algo no carinho despendido por ele na relação que simplesmente… eu gosto. Crime? Apenas em alguns círculos sociais que tem preconceito com feiosos narigudos. (Entendo que tem toda uma questão de ser um relacionamento entre uma vítima de genocídio e um dos genocidas com um arco de redenção fraco. Mas aí isso é problema de vocês que assistiram a Star Wars. Eu só leio fanfics que se passam em universos alternativos.)

    kkkk isso é um otp pra vcs?

    Mas com o incentivo acidental da Paola, acabei lendo um número de livros maior do que estou acostumada nos últimos meses, e em todos havia um ponto em comum: o fake dating. Os grandes fanfiqueiros estão acostumados com esse conceito, que simplesmente significa que há um casal fingindo um relacionamento na história. Esse tipo de enredo não é novidade pra quem já assistiu um pouco de Sessão da Tarde, já que está presente nos mais diversos filmes comuns desse horário, como o clássico Muito Bem Acompanhada. Eu sou fascinada pelo conceito e já li diversas fanfics em que esse é o enredo central da história, então aproveitarei meu extensivo conhecimento para tecer diversos comentários sobre essa trama.

    Existem vários motivos que podem fazer um casal fingir estar em um relacionamento. Segundo o TV Tropes, temos o casal em que um dos membros precisa estar no relacionamento para conseguir um visto, o Casamento de Cidadania, como acontece no filme The Proposal, e no livro Roomies. Pode ser o caso de um Blefe de Namorado, que é o que acontece quando uma personagem é salva pela outra que finge ser o namorado dela, como em uma fanfic ruim mas que me lembra os bons tempos, e em The Spanish Love Deception, eu acho… Também tem a Barba, que é quando uma mulher namora de mentirinha um homem gay para que ninguém descubra a sexualidade dele. Geralmente esse não acaba no relacionamento se tornando realidade. Temos ainda a história em que acontece a Operação: Ciúmes, que é quando o casal decide começar o namoro de mentira para causar ciúmes em uma terceira ou quarta pessoa, como acontece em Para Todos os Garotos que Amei.

    The Spanish Love Deception: chatão.

    Acredito que a graça de um fake dating esteja na qualidade de seus personagens, afinal, o fake dating costuma ter uma duração bastante curta, e você precisa se apaixonar pelos personagens, ou ao menos entender o motivo pelo qual eles estão apaixonados. Em The Spanish Love Deception, por exemplo, o casal finge ser um casal por apenas um final de semana. Contudo, ao invés de termos personagens apaixonantes, temos uma personagem insuportavelmente teimosa, e um homem perfeito que cometeu um erro uma vez, e tem um senso de humor meio burrinho. Isso, em si, não precisaria ser um problema, não fosse o desespero da autora para tornar tudo mais difícil para o Aaron, que só quer ajudá-la. Entendo que ela precisa ser teimosa como uma mula, mas é óbvio que o homem gosta dela, e ela não tem nem motivo pra odiá-lo. Quando eles explicam lá no final, eu compreendo que ele fez com que a Catalina sentisse uma enorme vergonha, o que é horrível, mas ele tentou se explicar, e ela não deixou em momento algum. E foi uma vergonha que só ela viu. Haja paciência.

    Enfim, os motivos para tudo são muito fracos. Nenhum dos problemas que fazem a história andar são bem desenvolvidos, o que torna difícil simpatizar com a chata da protagonista. O Aaron não tem motivos para querer fazer parte desse casal fake além do amor latente que sente pela chata da Catalina, mas aí como fica a nossa suspensão de descrença? Além disso, tudo é tão americano. Sei que a autora não é americana. Mas acho tão estadunidense o desespero dela para enfiar milhões de palavras em espanhol na história sem a menor necessidade. A forma como eles são workaholics e não conseguem uma semaninha de férias… Sem contar que ele era jogador de futebol americano. Terrível. Não gostei. Foi um parto pra ler. Ainda bem que esse foi o último que li, pois se tivesse sido o primeiro, eu não teria lido os outros.

    The Unhoneymooners: só errou uma vez.

    Já The Unhoneymooners acerta em todos os pontos em que o anterior errou. Aqui temos um casal que, a princípio, também se odeia. Por sorte, Olive e Ethan saem ilesos de um desastre que atinge a todos no casamento entre o irmão dele e a irmã dela. E são obrigados a fingir que são um casal para fazer a viagem de lua-de-mel dos irmãos. O motivo para fazer esse fake dating já começa bom o suficiente, mas durante a viagem ainda melhora: ela precisa fingir pro chefe, e ele finge para a ex-namorada. No meio de tanta mentira, eles acabam se conhecendo melhor e descobrem que se odiavam por motivos que fazem sentido. Catalina e Aaron could never!

    O que eu mais curto nesse livro é que vamos passando a compreender e gostar do Ethan junto da Olive. Ela odiava ele por diversos motivos coerentes, e eles vão caindo por terra na frente dos nossos olhos. A Olive, por outro lado, é uma personagem de fácil identificação, mas que continua sendo legal, apesar de que os outros personagens do livro veem ela como muito negativa e tudo mais. E é aí que o livro comete seus pecados. A Olive é pintada por todos como uma pessoa muito pessimista, o que eu particularmente discordo. E mesmo se ela fosse, ela já errou? Ela errou alguma vez? Não, não errou. E o que me incomoda é que ela perdoou a irmã muito fácil, e o Ethan também. Ok, ela tem sentimentos fortes por ambos. Mas eu queria ver mais dedicação da parte dos dois para poder perdoá-los. Achei o final fraco exatamente por isso. O outro defeito pra mim foi a demissão dela. Primeiro que o chefe não tinha nem que saber da vida privada dela. Que povo enxerido. Entretanto, mesmo que eu odeie essa parte do plot eu compreendo que ela precisava estar no fundo do poço. Então ok.

    the love hypothesis: perfeito

    Pra ser sincera, já comecei a esquecer desse livro. Ele está fazendo muito sucesso no tiktok e trata do relacionamento falso entre a Rey (que aliás, também se chama Olive, que nem o livro anterior), uma estudante que não consegui compreender se faz graduação, mestrado, ou doutorado, mas acho que é doutorado (pois é As a third-year Ph.D. candidate…), e o Ben Solo (que se chama Adam, que nem o ator do Kylo Ren/Ben Solo), um professor universitário do mesmo departamento que ela. A diferença de idade é de menos de 10 anos, e ele nunca deu nem daria aula pra ela, o que torna esse relacionamento menos polêmico. A motivação para o fake dating é sólida de ambos os lados. Bom, mais ou menos. Primeiro, a Rey beija o Ben de madrugada no meio de um laboratório para que a melhor amiga dela pensasse que ela está namorando alguém e está feliz. É só depois que ela percebe que ele era um professor odiado por literalmente todo mundo. Essa parte me pegou pois como recém formada, acho totalmente incompreensível se apaixonar por um professor escroto como ele. Mas a autora se esforçou então eu fingi.

    Cansei de escrever meu deus estou exausta.

    Pontos positivos: ele compra comida pra ela. Ele também tem um motivo pra topar o namoro de mentira. Ele já tinha motivos para gostar dela, apesar de ser um frouxo (se bem que antes ele sendo frouxo do que dando em cima de uma aluna, né?). Ele tem defeitos, como o rosto feio (estou imaginando o Adam Driver, ok), a personalidade de cu, a insegurança, timidez, falta de tato no contato com outros seres humanos. E ainda assim, ele é realmente bom pra ela. O final é bom. Bem, eu acho que é, visto que já não me recordo. Acho que foi curto, um clímax que poderia ser maior, mas ainda assim foi bom. Recomendo a todos.

    Bom, além desse três livros, também já li Roomies, que é da autora de The Unhoneymooners, da Christina Lauren, que na verdade é um pseudônimo de duas mulheres. Nesse livro, a protagonista se apaixona pela forma que um músico de rua toca violão, decide unir o útil ao agradável, e no processo de ajudar o tio na Broadway, acaba casando com esse músico para que ele consiga um green card. Eu recomendo? Não, pois passei mais raiva do que com todos os outros. Mas li há muitos meses, então talvez eu esteja enganada.

    filminho ruim esse muito bem acompanhada eu odiei

    Já no que concerne a cinematografia, assisti ao filme Muito Bem Acompanhada achando que poderia me dar mais conteúdo para falar aqui, e tudo que consegui pensar foi que o filme é horrível. Tentando deixar de lado todo o contexto sociocultural, é impossível pra mim entender o motivo pelo qual o gigolo se apaixona pela cliente. Claro que, quando o amor é amor, ele vence todas as barreiras, o que pode levar o homem a dizer que “mesmo se eu não tivesse te conhecido, eu ainda sentiria sua falta…”. Mas não teve como rolar amor ali no meio daquela transação comercial, em nenhum momento ele indica pra ela que está agindo fora da venda que ele tinha realizado. Enfim. Eu odiei.

    Outro filme que usa dessa temática é Para Todos Os Garotos Que Amei, em que Lara Jean acaba beijando o crush antigo dela e usando isso como desculpa pra fugir de alguns problemas… Bem, eu gostei muito desse primeiro filme, pisou nas continuações. O relacionamento se desenvolve devagarzinho e é bem fofo de acompanhar. Eu recomendo.

    E por fim… Fanfics!

    A primeira fanfic que me vem a cabeça quando falo desse tema é Is It Pretending If I Already Want You? – OhCaptainMyCaptain, que fala de um relacionamento entre Bucky Barnes e Steve Rogers num universo alternativo em que eles não são super-heróis e o Bucky precisa de um namorado de mentira para levar para a casa dos pais no aniversário de casamento deles, afinal blefou para a irmã falando que tinha um namorado. Ora, e qual alternativa poderia ser melhor do que o melhor amigo dele? Nesse caso, o único motivo para o Steve topar mentir é que ele está profundamente apaixonado, mas aqui, ao contrário de em The Spanish Love Deception, funciona perfeitamente. Talvez porque eles já são amigos, talvez porque o Bucky tem motivos bem desenvolvidos para não se envolver com outras pessoas. Não sei, só sei que é lindo ver quando o relacionamento passa de amizade para amor.

    É interessante pois nessa fanfic temos uma coisa que difere desses livros e filmes: geralmente, alguma coisa de muito ruim acontece para os personagens chegarem ao fundo do poço, como a descoberta da mentira, uma falsa sextape vazada, uma tentativa de assédio sexual… Mas aqui, o amor em si é a trama. Estamos aqui pra ver os personagens se apaixonando, e nem sempre é preciso que tenha um conflito guiando o avanço da história. Talvez seja por isso que eu gosto tanto de fanfics. A liberdade para esse tipo de acontecimento, com o conflito sendo interno do personagem, é bem maior.

    Outra fanfic cujo tema principal é fake dating é just say you do – biblionerd07 que também é desse casal. Nesse caso eles mentem apenas para o governo americano (e para os amigos, com aprovação dos pais), para o Bucky conseguir uma graninha que soldados aposentados casados tem direito. Ou seja, além de belo, é moralmente correto. Bom, essa aqui tem centenas de milhares de palavras então seria muito ousado da minha parte dizer que lembro de muito dela, mas lembro de coisinhas: o Steve era apaixonado pela Peggy e acaba que ela sente ciúmes do casamento dele com o Bucky… E acho que ele fica meio reflexivo pois é um slow burn bem slow da parte do Steve… Mas é bom, recomendo a todas as malucas.

    (Aliás é interessante como praticamente todas as fanfics boas do mundo são Steve e Bucky… Você quer, DC? )

    Enfim, gatas… Já li outras coisas com fake dating mas devido a ruindade terei que fingir que não li pra evitar o julgamento alheio. Elas são tão velhas que moram no praticamente morte fanfiction.net, e são de Naruto. Mal tinha começado o Shippuden na época.

    Bom, é isso. Today I offer you muito fake dating… Tomorrow? Who knows?

  • eu dormi assistindo blade runner 2049 no cinema.

    Muitas vezes me pego pensando que eu poderia começar a minerar todos os dados sobre mim mesma. Registrar tudo que se relaciona a mim e finalmente me compreender. Fazer diversas análises, encontrar todos os padrões. Tudo começa de uma maneira muito simples, você baixa um aplicativo para registrar os dados do seu ciclo menstrual, e ele já te pergunta tudo: hoje, o que você sentiu vontade de comer? Doces, carboidratos, chocolate? Você estava feliz ou triste? Cansada, exausta ou ativa? Quantas horas você dormiu? Qual foi sua temperatura basal? Seu colo do útero está alto ou baixo? Como está a textura do seu corrimento? Essas são todas perguntas relevantes para quem quer entender melhor o ciclo menstrual, especialmente para quem quer usar isso como método contraceptivo. O aplicativo te pergunta mas é lógico que você não é obrigado a responder nada. Eu mesma não respondo, só registro os dias em que menstruo. Mas fico refletindo.

    Se eu respondesse todos os dias todas as perguntas que o aplicativo me faz, talvez eu conseguisse sempre saber quando estou para menstruar. Sei que há um padrão, porque eu sempre fico muito triste quando estou de TPM. Choro fácil, brigo fácil… Enfim, se sou capaz de saber disso apenas com a vivência, imagina o que eu não saberia com tantas informações depositadas no site? Eu poderia saber quando vou ovular ou entender melhor a relação entre comer doce e menstruação. E por que parar por aí, não é mesmo? Por que eu não começo um habit tracker com informações como a quantidade de água que bebi no dia, se me exercitei e quais exercícios eu fiz em quais dias? E por que não anoto naquele outro aplicativo qual é o meu humor do dia? Por que eu não anoto tudo que comi, todos os macros, quantas calorias? Por que eu não ando com uma pulseira que registra todos os meus passos, cada corrida, cada noite de sono mal dormida e até os momentos em que meu sono estava no estágio ideal para o descanso?

    Quantos padrões eu não seria capaz de encontrar tendo todos esses dados registrados? Eu poderia descobrir se há uma relação entre carboidratos – exercícios – felicidade. Ou qualquer outra relação. Poderia me encaixar perfeitamente em diversas análises econométricas e tentar predizer o meu próprio futuro, encontrar a receita da felicidade, fazer a regressão linear capaz de me explicar quanto cada variável depende da outra. Seria possível então compreender intimamente minhas mudanças de humor e comportamento. Finalmente eu poderia me tornar um robô. Mas a realidade é que talvez todas essas relações sejam espúrias. Talvez o conjunto de fatores que não são capazes de serem medidos, como o comportamento do exterior, sejam mais relevantes para a equação da minha felicidade do que todos os dados que eu sou capaz de quantificar. E talvez, mesmo em posse de todos esses dados, eu não tenha um comportamento algoritimizado, que siga padrões claros e objetivos. Talvez eu não seja um androide.

    Há algumas semanas, eu comecei a assistir um vídeo que falava sobre uma música de um especial de comédia da Netflix. Já não me recordo de muita coisa, mas achei alguns pontos do vídeo muito desconcertantes e outros pontos também não saem da minha cabeça. Um deles era o fato de que sempre imaginamos um futuro tecnológico, com robôs e com seres meio humanos meio robôs. Tá, talvez não sempre, mas é uma visão que já vimos em diversas representações de um futuro hipotético. E então o cara falava que já estamos no futuro e somos androides. Não conseguimos mais viver sem o celular, que agora é apenas uma extensão de nossos braços e mentes. A existência sem essa forma de comunicação simples e fácil é impensável. Talvez essas frases não sejam o suficiente para te convencer desse fato, mas estamos agora mesmo interagindo de maneira virtual, se não por meio do celular então por meio de um computador ou tablet mas inegavelmente utilizando a internet. Você conseguiria viver sem internet? E não digo como se fôssemos todos morrer na ausência de internet, afinal, já provamos por milênios que não precisamos dela. Exceto que agora precisamos. Enfim, talvez eu seja sim um androide.

    O que, afinal, define um androide?

    Talvez eu devesse ler formas de mídia que pensaram sobre isso antes de mim.

    Eu dormi assistindo Blade Runner 2049 então não sei se essa vai servir. Falando em Blade Runner, li o livro em cerca de 12 horas para ver o que eu poderia acrescentar a essa postagem apenas para descobrir que eu não tenho a menor ideia do que estou falando. Aliás, falando em registrar todos os meus passos, ao terminar de ler, qual não foi meu primeiro passo? Sim, registrar que li o livro no site em que registramos esse tipo de coisa. Qual é a relevância de registrar quais livros a gente leu ou deixou de ler? Não entendo para que serve direito. Comparar com os colegas? Ler e escrever resenhas? Talvez seja assim para vocês, mas não para mim que vejo aquilo apenas como um lembrete de que eu já li coisas e quais coisas já li. Mas qual é o sentido, se eu tenho meu próprio cérebro? Ele não é confiável?

    Será que ainda estamos distantes de um futuro em que androides são criados a partir de algoritmos da nossa vida? Será que devo assistir Ex-Machina e sei lá, Eu, robô?

    No final das contas o livro Androides Sonham Com Ovelhas Elétricas? me trouxe ainda mais dúvidas do que certezas. Recomendo o livro horrores pois todas as questões existenciais dele são muito interessantes. A gente acaba pensando sobre xenofobia, classe, religião. Particularmente adoro pensar em religião e gostei horrores dessa interpretação do final do livro de que não importa se Deus é apenas uma invenção para enganar a todos nós. A experiência de comunhão que aqueles que tem fé sentem um com os outros torna a religião válida para aqueles que nela acreditam. É interessante pensar assim. E ali no final tem alguma coisa com o mito de Sísifo que eu ainda não consegui refletir sobre mas que eu amo… Mas divago. A conversa da androide cantora de ópera com nosso protagonista caçador de androides suscita diversas discussões mentais sobre o que torna um humano, humano. É a empatia para com os seres vivos? Ou com todos os seres? No livro, os humanos fazem testes de empatia para verificar a humanidade do ser. Mas os testes não são perfeitos, visto que alguns humanos não conseguem passar. Quando o Rick fala que os androides não se importam com o que acontece com os outros androides, e a cantora da ópera afirma então que ele deve ser um androide, afinal, não tem empatia com os outros androides, fiquei muito abalada.

    Claro que o ponto da história é dizer que esses robôs tem tanta humanidade quanto os humanos dessa realidade, mas… que raiva! E quando os outros androides torturam a coitada da aranha, não pude deixar de pensar que aquela atitude foi extremamente… humana.

    No momento em que criarmos formas de inteligência artificial, é inevitável que sentimentos negativos sejam transferidos aos androides, não é? Sendo assim, ciúmes, raiva, desejo de vingança, não são coisas impensáveis, mesmo que sejam um tanto quanto irracionais. Nesse sentido, quando a Rachael mata aquilo que tanto importava para o Rick, vocês acham que foi uma atitude raivosa? Vingativa, por ele ter matado seus irmãos androides? Ou até ciumenta, com inveja dos sentimentos que ele nutria por um animal vivo de verdade, que não era um robô?

    E se isso pode acontecer, é válido também pensar em outros filmes de ficção científica que trazem essa ideia, como 2001: Uma Odisseia No Espaço. Pode-se dizer então que é unânime que as inteligências artificiais do futuro sentirão ciúmes de seus humanos de estimação… Não sei se é apenas coincidência, mas eu também dormi assistindo esse filme. (Talvez seja alguma questão de ficção científica, já que o melhor sono que já tive foi no cinema assistindo Ad Astra.)

    Ainda pensando em androides e algoritmos que sabem de tudo sobre você, acho inevitável pensar em quando Black Mirror ainda era uma série boa. No episódio Be Right Back, o personagem do Domhnall Gleeson (que deve ser um grande fã de ficção científica, ao contrário dessa que vos escreve, visto que está nesse episódio, no filme Ex-Machina, em Star Wars, e até em Questão de Tempo) morre e sua esposa usa todos os dados virtuais disponíveis para contratar um serviço que traz ele de volta, de certa forma. Primeiro, por meio da troca de mensagens com uma inteligência artificial que age como ele, escreve como ele e fala como ele. Eventualmente, ela compra um corpo de androide para ele, mas óbvio que não é a mesma coisa. Ele é apenas um reflexo do que era quando estava vivo. Será que meu comportamento poderia ser reproduzido por um algoritmo? Será que esse episódio já é realidade? Será mesmo que ele era apenas um reflexo das atitudes anteriores de quem ele era antes? Nunca teremos certeza, assim como a esposa dele no filme, que não teve coragem de matar o robô. Talvez ele não fosse apenas um robô. Talvez tivesse sentimentos. Tem um filme que passava na globo que termina com alguma coisa no sentido de aceitar que o robô era humano e tinha sentimentos na hora da morte dele, não tem? Lembro vagamente de ver isso quando era criança, e na minha cabeça sempre foi óbvio que se um ser sente, ele é humano, em algum nível.

    Mas acho que parte do dilema é que não tem como saber se um ser sente ou apenas repete um comportamento que nos faz entender que ele está sentindo. Como nessa cena aqui do episódio supracitado de Black Mirror:

    Não, estou apavorado, por favor, querida, não me faça pular. Eu não quero morrer.

    E aí, hein? Robôs hipotéticos são capazes de sentir? São capazes de amar? Algoritmos pensam? Seres humanos pensam? O que nos difere dos algoritmos que nós geramos? Vamos todos morrer e a revolução das máquinas é apenas um questão de tempo? Não sei. Tanto pensei e a conclusão nenhuma cheguei. O que vocês pensam sobre isso?